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INÍCIO
Áreas de Atuação
Saúde Ambiental
Saúde Ambiental

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, através do seu Departamento de Saúde Ambiental (DSA), desenvolve ações de estudo do impacto dos determinantes ambientais e ocupacionais na saúde e qualidade de vida das populações, numa abordagem preventiva relativamente à exposição a fatores de risco de origem ambiental.

A sua atuação visa fundamentalmente a obtenção de evidência científica de suporte à decisão técnica e política nas áreas da qualidade da água, nas vertentes química, microbiológica e biológica, da qualidade do ar interior e monitorização ambiental e biológica para avaliação de risco em saúde ocupacional.

Entre as suas funções essenciais contam-se atividades de investigação e desenvolvimento em áreas identificadas como prioritárias de acordo com as estratégias nacionais e internacionais, de laboratório de referência para a saúde no domínio da saúde ambiental através da implementação de novas metodologias e organização de programas de avaliação externa da qualidade laboratorial, de prestação de serviços diferenciados, incluindo ensaios analíticos e consultoria, e formação.

Publicações

Qualidade do ar interior

A qualidade do ar no interior dos edifícios não industriais é um assunto da maior importância para a saúde pública dado que passamos mais de 80% do nosso tempo no interior.

Nesta área de trabalho realizam-se estudos de avaliação da contaminação do ar interior por agentes químicos e/ou microbiológicos, avaliação do conforto térmico e determinação dos níveis de iluminância visando contribuir para a criação de edifícios com ambientes interiores saudáveis e confortáveis, tendo em vista o bem-estar dos seus ocupantes.

Entre os vários agentes analisados contam-se agentes químicos (monóxido de carbono, dióxido de carbono, formaldeído, COVT, PM10 e PM2,5), microbiológicos (bactérias e fungos) previstos na Portaria 353- A/2013 e físicos (níveis de iluminância, parâmetros térmicos ambientais (temperatura do ar, temperatura de radiação, humidade e velocidade do ar) e respetivos índices de conforto térmico).

Face à suspeita de contaminação do ambiente interior por outro tipo de agente químico (fibras respiráveis, ozono, etc.) ou microbiológico (ácaros), poderá ser efetuada a sua pesquisa no ambiente e realizada a avaliação da exposição por comparação com valores-guia/limite constantes em referenciais normativos aplicáveis.

Impacto das alterações climáticas na qualidade da água

As alterações climáticas, caracterizadas por um aquecimento global associado a episódios de seca e inundações, induzem modificações regionais que se refletem na qualidade química e microbiológica da água. O aumento da temperatura média das massas de água gera alterações nos microbiomas criando, por exemplo, condições propícias ao desenvolvimento de florescências de cianobactérias (crescimento massivo de algas), por vezes produtoras de cianotoxinas, o que pode constituir um risco para a saúde pública. Episódios de cheias ou secas afetam a distribuição de poluentes químicos e microbiológicos o que exige também uma atenção especial para este efeito.

Nesta área de trabalho inclui-se a monitorização dos principais rios e albufeiras portugueses para deteção precoce de desenvolvimentos de florescências de cianobactérias tóxicas que possam pôr em risco a qualidade da água destinada ao consumo humano ou atividades recreativas, assim como o mapeamento de zonas de risco potencial acrescido relativamente a fenómenos toxigénicos associados à ocorrência de cianobactérias. Inclui-se ainda a caracterização dos organismos toxigénicos detetados em ocorrências nocivas e as suas toxinas.

Para além das atividades já referidas, desenvolvem-se também, nesta área de trabalho, novas capacidades que permitam acompanhar e monitorizar muitos dos possíveis eventos decorrentes das alterações climáticas em consequência do crescimento e propagação de microrganismo patogénicos, como o agente da cólera, ou difusão no meio hídrico de poluentes químicos com impacto na saúde humana.

Qualidade química e microbiológica de águas e areias

A água é um recurso natural valioso, indispensável à vida mas também a muitas atividades económicas e de lazer. Pode, contudo, constituir um risco para a saúde pública caso não reúna qualidade adequada para o fim a que se destina podendo veicular numerosos compostos químicos nocivos ou microrganismos como bactérias, vírus, parasitas ou fungos responsáveis por vários tipos de infeções.

Nesta área de trabalho desenvolvem-se estudos de avaliação da qualidade físico-química, microbiológica e ecotoxicológica da água nas suas diversas utilizações e meios relacionados: água para consumo humano, águas naturais superficiais ou subterrâneas para rega ou outros fins, águas de piscina ou tanques terapêuticos, águas balneares, águas de processo, águas residuais, entre outras, e areias, visando a identificação e caracterização de riscos para a saúde.

Os Laboratórios que integram esta área de trabalho prestam à comunidade em geral e aos serviços de saúde em particular numerosos serviços analíticos e de assessoria técnico-científica (pareceres técnicos) segundo os melhores conhecimentos disponíveis em matéria de Saúde Ambiental, mantendo-se, para o efeito, em constante atualização metodológica enquadrada num sistema de gestão e garantia da qualidade laboratorial que conta com a Acreditação pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação) segundo a NP 17025 de numerosos ensaios analíticos.

Esta área de trabalho inclui ainda a organização de programas de avaliação externa da qualidade laboratorial no campo das matrizes água e areias.

Poluentes químicos e microbiológicos emergentes em meio hídrico

Consideram-se emergentes os compostos químicos ou os microrganismos que são, pela primeira vez, responsáveis por casos de doença ou que, sendo já conhecidos, estão a aumentar o seu impacto na saúde humana ou a expandir-se para áreas onde não tinham sido ainda reportados casos de doença. Incluem uma ampla categoria de produtos químicos (desreguladores endócrinos, fármacos, agentes de diagnóstico, cosméticos, retardantes de chama, subprodutos da desinfeção da água, subprodutos industriais, nanomateriais, etc.) e microrganismos (Escherichia coli O157, Legionella, Vírus da hepatite E, Norovirus Cryptosporidium, toxinas de cianobactérias, etc.) anteriormente não reconhecidos como preocupantes em termos de saúde pública.

Nesta área de trabalho implementam-se e validam-se novas metodologias laboratoriais para monitorização ambiental em resposta a necessidades emergentes de saúde, assegura-se o estudo epidemiológico laboratorial de doenças de origem hídrica e desenvolvem-se atividades de investigação inseridas em projetos que visam aumentar o conhecimento sobre a distribuição, toxicidade, persistência e mecanismos de transformação dos vários poluentes emergentes.

Em articulação com os serviços de saúde respetivos, esta área de trabalho participa na implementação de planos de contingência para resposta a situações de emergência na área ambiental e elaboram-se recomendações incluindo medidas corretivas, preventivas, educativas ou outras consideradas adequadas a cada situação e que promovam as boas práticas em matéria de saúde ambiental.

Fitoplâncton e ecotoxicidade

A água doce de origem superficial é um recurso fundamental para o abastecimento da população portuguesa. Contudo, a contaminação ambiental desta água pode introduzir níveis elevados de matéria orgânica (eutrofização), o que favorece o crescimento de microalgas, em particular de cianobactérias. Estas últimas podem estar associadas à produção de toxinas (cianotoxinas), podendo resultar em efeitos nefastos para a Saúde Pública. A monitorização destas ocorrências nos recursos hídricos superficiais assegura o controlo da qualidade da água, prevenindo riscos para a saúde e reduzindo os custos associados ao seu tratamento.

Nesta área de trabalho desenvolvem-se as seguintes atividades:

Monitorização de albufeiras portuguesas para detecção precoce de desenvolvimentos de florescências de cianobactérias tóxicas. Neste âmbito, realiza-se a identificação e quantificação de organismos fitoplanctónicos, quantificação do biovolume de fitoplâncton e quantificação de cianotoxinas (microcistinas totais e cilindrospermopsina total).

Investigação nas áreas da toxicidade associada a cianotoxinas: pesquisa de biomarcadores de exposição a cianotoxinas, estudos de resistência de cianobactérias a antibióticos e estudo da atividade antimicrobiana de cianobactérias.

Coleção de Culturas de Algas Estela Sousa e Silva (ESSACC) – A ESSACC possui cerca de 140 estirpes de cianobactérias isoladas de diversas florescências ocorridas em Portugal. Esta coleção tem contribuído para o treino de estudantes e investigadores na identificação e técnicas de cultura de algas, assim como para a realização de diversos trabalhos de investigação, incluindo projetos de mestrado e de doutoramento.

Monitorização ambiental e biológica para avaliação de risco em saúde

A criação de locais de trabalho progressivamente mais saudáveis permite proteger a saúde e bem-estar dos trabalhadores, contribuindo decisivamente para a melhoria da saúde pública. Neste contexto, a monitorização ambiental e a monitorização biológica são ferramentas essenciais que permitem antecipar, reconhecer, avaliar e controlar os riscos para a saúde presentes nos ambientes de trabalho.

A monitorização ambiental consiste na medição e estudo dos agentes presentes no local de trabalho, de forma a avaliar a exposição ambiental e o risco para a saúde, por comparação com referenciais adequados – valores guia/ limite descritos em legislação e normas. Nesta área de trabalho é possível determinar/medir a concentração de agentes químicos, biológicos (bactérias e fungos) e físicos (níveis de ruído, níveis de vibração, níveis de iluminância, parâmetros térmicos e respetivos índices de exposição ao calor – WBGT).

A monitorização biológica de agentes químicos complementa a monitorização ambiental e consiste na determinação dos agentes presentes no local de trabalho, ou dos seus metabolitos, nos tecidos, secreções, excreções, ou numa combinação destes meios biológicos, de forma a avaliar a exposição e o risco para a saúde, comparando os valores medidos com referenciais adequados – Índices biológicos de exposição, referidos em legislação, normas, etc..

A monitorização biológica permite avaliar a exposição total do indivíduo a um determinado agente químico independentemente da via de exposição: respiratória, cutânea e digestiva. Considera as flutuações de concentração no ar e a exposição profissional e não profissional. Permite ainda entrar em linha de conta com a sensibilidade individual ao agente químico em causa, e com o esforço despendido no trabalho, isto é, a ventilação pulmonar que, para a mesma exposição ambiental, faz com que os indivíduos em atividades mais pesadas absorvam maior quantidade do agente do que indivíduos em atividades mais leves.

Avaliação da toxicidade dos nanomateriais

Todas as tecnologias emergentes oferecem grandes promessas, mas também colocam dilemas éticos e regulatórios com os quais devemos lidar. Enquanto os benefícios de um novo material, produto ou processo são muitas vezes imediatamente apreciáveis, a avaliação dos riscos associados à sua utilização é um processo demorado e as nanotecnologias não são exceção.

Os materiais à escala nanométrica apresentam frequentemente propriedades físico-químicas únicas que resultam em potenciais novas aplicações. No entanto, as mesmas propriedades que tornam os nanomateriais tão atraentes também levantam preocupações sobre a sua segurança. A vasta gama de nanomateriais industriais, biomédicos e de consumo aumentou a probabilidade de exposição humana e ambiental a estes materiais.

Uma das vertentes de investigação em nanomateriais do Departamento de Saúde Ambiental (DSA) é a procura de novas estratégias de avaliação da toxicidade com base em tecnologias preditivas e de alto rendimento para avaliar o potencial risco destes materiais. Um dos projetos de colaboração internacional no campo da nanosegurança, atualmente a decorrer, aborda os riscos ocupacionais associados à produção de nanomateriais na indústria cerâmica. Este projeto avaliará a exposição de trabalhadores em diferentes cenários e caracterizará nanopartículas produzidas intencionalmente e não intencionalmente durante processos industriais. O Laboratório avaliará os efeitos biológicos/toxicológicos de materiais nanocerâmicos transportados por via aérea em modelos relevantes in vitro e in vivo.

O DSA é também parceiro num consórcio internacional empenhado em desenvolver uma abordagem abrangente de avaliação de risco tendo por base o conjunto das propriedades físicas, químicas e biológicas relevantes (modo de ação) dos nanomateriais para priorizar os ensaios, apoiar a avaliação de risco e auxiliar a indústria na conceção segura.

Impacto de determinantes ambientais na qualidade de vida das populações

O principal objetivo desta área de trabalho é contribuir para o conhecimento dos efeitos das exposições ambiental e ocupacional e fornecer bases científicas para a tomada de decisão sobre normas ambientais, ocupacionais e de saúde. As atuais linhas de investigação estão direcionadas para o estudo do impacto da exposição a contaminantes presentes no ar sobre os marcadores biológicos de doença e o papel específico da exposição ambiental e ocupacional na saúde e no bem-estar.

Embora a lista de exposições ambientais que ocorrem durante o período perinatal com potencial para aumentar o risco de instabilidade cromossómica e desenvolvimento de cancro aumente, as evidências disponíveis permanecem inconsistentes e inconclusivas.

Um dos projetos em curso estuda eventuais alterações no DNA (genéticas e epigenéticas) em recém-nascidos resultantes da exposição ambiental in utero ao fumo do tabaco. Os dados obtidos permitirão aprofundar o conhecimento sobre o impacto da exposição materna ao fumo de tabaco na saúde do recém-nascido e os efeitos da passagem transplacentária de constituintes químicos do tabaco.

O Departamento de Saúde Ambiental tem ainda como linha de investigação, nesta área de trabalho, compreender o impacto dos fatores ambientais e comportamentais que afetam a qualidade de vida dos idosos e identificar marcadores biológicos que possam fornecer sinais precoces de risco e/ou deterioração da saúde, nomeadamente o Síndrome Multidimensional de Fragilidade.

O projeto em desenvolvimento está focado na deteção de novos biomarcadores celulares e moleculares associados à fragilidade que podem ser detetados antes que as manifestações clínicas se tornem evidentes, bem como no esclarecimento do efeito do exercício físico na prevenção ou, mesmo, reversão da fragilidade, visando a implementação de ações que promovam o envelhecimento saudável.