O Instituto Ricardo Jorge, através do seu Departamento de Epidemiologia, entre outros, produz dados, informação e conhecimento acerca da frequência, distribuição e fatores que determinam a saúde e a doença, e as suas consequências, na população portuguesa.
Este trabalho é realizado através de estudos epidemiológicos descritivos ou de redes de observação e vigilância, quando as perguntas têm que ver com a frequência e distribuição da doença ou dos determinantes de saúde, ou através de estudos epidemiológicos analíticos, quando as perguntas têm que ver com o estudo dos determinantes de saúde.
Os estudos epidemiológicos são feitos sobre amostras da população geral, de doentes, ou de utilizadores de serviços de saúde, de acordo com cada questão de investigação. Os dados são recolhidos através de inquérito, por medição de parâmetros biométricos, como o peso ou a altura, ou por análise de materiais biológicos, como o sangue. O tratamento e análise dos dados são feitos através de métodos estatísticos, informáticos, e de sistemas de informação geográfica, entre outros, apropriados aos problemas que estão em investigação ou sob monitorização e vigilância.
Os resultados da investigação, da observação e da vigilância epidemiológica são divulgados através de publicações internas, como relatórios e boletins epidemiológicos, de que se destaca o Boletim Epidemiológico Observações, ou através de meios externos como a publicação em revistas científicas nacionais e internacionais, comunicações orais ou em cartaz, em reuniões científicas.
A comunicação desta informação e conhecimento epidemiológico é efetuada tendo em consideração os diferentes públicos-alvo, que incluem a população geral, os doentes, os profissionais de saúde e os decisores, designadamente os que trabalham no sector da saúde. A finalidade é sempre contribuir para a prevenção e controlo dos problemas de saúde na população, desde logo a população portuguesa.
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O sistema EVITA (Epidemiologia e Vigilância dos Traumatismos e Acidentes), criado em 2000 e coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge, é um sistema de recolha e análise de dados sobre Acidentes Domésticos e de Lazer (ADL) que implicaram recurso às urgências de unidades de saúde do Serviço Nacional de Saúde. Este sistema é desenvolvido em estreita colaboração com a Administração Central dos Sistemas de Saúde.
O programa de vigilância EVITA integra a rede europeia do IDB Network(Injury DataBase), juntamente com organizações de 25 países da “European Association for Injury Prevention” (EuroSafe), no âmbito do projeto BRIDGE (2014-2017). O sistema EVITA dá continuidade ao sistema ADELIA – Acidentes Domésticos e de Lazer – Informação Adequada.
Como principais objetivos de curto prazo do sistema EVITA, destaca-se a determinação de frequências e tendências dos ADL em geral e das suas diversas formas, bem como as características das vítimas, das situações e dos agentes envolvidos. A longo prazo, estes objetivos passam pela identificação de situações de risco, bem como de produtos perigosos ou que propiciem a ocorrência de ADL. O sistema permite assim uma base de conhecimento para apoio da definição de políticas de prevenção baseadas na evidência.
As anomalias congénitas, ou malformações congénitas, são alterações estruturais ou funcionais presentes desde o nascimento. Surgem na fase pré-natal e podem ser causadas por alterações em genes ou cromossomas, ou pela exposição materna a substâncias teratogénicas durante a gravidez.
O Registo Nacional de Anomalias Congénitas – RENAC – é um registo nosológico de base populacional, que funciona em Portugal desde 1997. O RENAC integra o registo europeu de anomalias EUROCAT (European Surveillance of Congenital Anomalies) desde 1990, contribuindo com os casos registados nas regiões ao sul do rio Tejo.
O RENAC tem como objectivos fornecer informação sobre a epidemiologia das anomalias congénitas em Portugal, manter um sistema de vigilância que permita detetar novas exposições teratogénicas, avaliar a efetividade de medidas de prevenção primária, avaliar o impacto do diagnóstico pré-natal, manter uma base de dados para investigação e integrar a rede de registos europeus de anomalias congénitas.
São notificadas ao RENAC todas as anomalias estruturais major acompanhadas, ou não, de anomalias minor, e todas as anomalias cromossómicas observadas em recém-nascidos vivos, quando detetadas até ao fim do período neonatal ou nos nados-mortos, em fetos mortos com idade gestacional igual ou superior a 20 semanas e em fetos submetidos a interrupção médica da gravidez, independentemente da idade gestacional.
São excluídos da notificação ao RENAC os defeitos metabólicos ou funcionais, as deformações ou lesões por traumatismo de parto e anomalias estruturais minor isoladas. O registo é efetuado através do preenchimento de um questionário de acesso reservado às entidades de saúde que colaboram com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge neste Registo.
Determinantes da saúde são as circunstâncias em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem e os sistemas dedicados a lidar com a doença. Estas circunstâncias são, por sua vez, modeladas por um vasto conjunto de forças: económicas, políticas, sociais, entre outras.
A idade, o sexo e os fatores hereditários são consideradas características fixas, mas os fatores incluídos nas restantes camadas são modificáveis através de intervenções especificamente dirigidas, salientando-se os fatores relacionados com estilos de vida, como o consumo de tabaco e álcool, os hábitos alimentares e o sedentarismo. Estes fatores parecem atuar ao longo da vida do indivíduo, sendo particularmente importantes na infância, estando a exposição a condições sociais desfavoráveis, materiais e afetivas associadas a alterações da saúde em fases mais tardias do ciclo de vida.
O Instituto Ricardo Jorge contribui para o conhecimento da caracterização e feitos dos determinantes de várias formas e, para tal, recorre a instrumentos de observação e realiza estudos epidemiológicos específicos. Alguns comportamentos, como o consumo de tabaco e de álcool são estudados regularmente pelo Inquérito Nacional de Saúde. Estimativas anuais da cobertura da população com vacina antigripal são realizadas através do painel ECOS – “Em Casa, Observamos Saúde”.
Os determinantes ambientais têm sido também abordados, como as ondas de calor com impacto na mortalidade, sendo a previsão da dimensão desse efeito feita diariamente durante o verão através de ÍCARO (Importância do CAlor: Repercussão sobre os Óbitos). Trata-se de um instrumento de observação e previsão em atividade desde 1999.
São ainda realizados estudos sobre a literacia e o conhecimento da população acerca de diversos temas no âmbito da saúde.
A circulação anual do vírus da gripe (vírus Influenza) é responsável por epidemias sazonais, normalmente benignas, mas com potencial impacto na mortalidade e morbilidade em particular de alguns grupos de indivíduos.
A vigilância epidemiológica da gripe é realizada desde 1990 e assenta na notificação de casos de síndroma gripal pelos médicos de família pertencentes à Rede Médicos-Sentinela. A integração desta informação no Programa Nacional de Vigilância para o Vírus da Gripe tem permitido a determinação semanal das taxas de incidência da síndroma gripal e a identificação e caracterização as estirpes do vírus influenza circulantes na população, informação disponibilizada semanalmente durante o período de Inverno através do Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe.
A principal medida de prevenção da gripe é a vacinação anual e neste contexto o Departamento de Epidemiologia, desde 1998, tem monitorizado anualmente a cobertura da vacina antigripal na população portuguesa residente no continente através do painel ECOS (Em Casa observamos Saúde). Na área das vacinas, para além deste indicador de avaliação da evolução da adesão da população a esta medida preventiva, têm sido desenvolvidos estudos específicos para estimar a efetiva proteção de vacinas na redução de doenças e seus impactos.
São exemplos desta linha de investigação os seguintes projectos:
- EuroEVA: Estudo da efetividade da vacina antigripal em contexto dos cuidados de saúde primários. Participam neste estudo, na seleção de doentes com síndroma gripal, médicos de família a maioria pertencente à rede Médicos-Sentinela;
- EVAHospital: Estudo da efetividade vacina antigripal contra casos de gripe que exigem hospitalização. Este estudo está a ser desenvolvido em parceria com o Centro hospitalar Lisboa Central e Centro Hospitalar de Setúbal;
- PneumoPAC: Estudo da efetividade da vacina antipneumocócica para pneumonia adquirida na comunidade, que conta com a colaboração dos médicos sentinela na seleção de casos suspeitos de pneumonia.
A saúde humana é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma componente sujeita a grande influência das alterações climáticas na Europa, sendo essencial conhecer a vulnerabilidade da população às condições meteorológicas adversas, designadamente através da monitorização das temperaturas extremas, elevadas ou baixas, através de sistemas de vigilância. Neste sentido, o Departamento de Epidemiologia trabalha, desde há vários anos, estas temáticas, tendo desenvolvido três instrumentos de observação para este fim.
Em 1999 foi implementado o Sistema ICARO (Importância do CAlor: Repercussões sobre os Obitos) que em todas as épocas estivais permite a estimação de uma medida de risco de morte associado ao calor extremo em Portugal Continental com previsões meteorológicas a 3 dias. Esta medida de risco é efetuada para a mortalidade da população geral e com 75 e mais anos de idade.
Em 2015 foi implementado o Sistema FRIESA (FRio Extremo na Saúde) que, entre os meses de novembro e março, permite a estimação de uma medida de risco de morte associado ao frio extremo nos distritos de Lisboa e do Porto, com previsões meteorológicas a 9 dias. Esta medida de risco é efetuada para mortalidade por Todas as Causas e por Doenças dos Aparelhos Circulatório e Respiratório e para a população geral e com 65 e mais anos de idade.
Para avaliação dos possíveis impactes dos eventos identificados por estes dois sistemas de vigilância é efetuada a monitorização da mortalidade por todas as causas através do Sistema VDM (Vigilância Diária da Mortalidade), em funcionamento também no departamento de Epidemiologia de forma automatizada desde 2007.
Os factores de risco para as doenças crónicas, como a diabetes, a hipertensão e a obesidade, estão na sua maior parte identificados e relacionam-se com estilos de vida inadequados, como o sedentarismo, a alimentação hipercalórica e salgada, o consumo de tabaco e de álcool. No entanto, estas doenças são cada vez mais frequentes a nível global, assim como em Portugal, causando elevada utilização de cuidados e despesa em saúde.
A prevenção primária de novos casos destas doenças, a prestação de cuidados de saúde adequados à população e ao controlo da doença existente, é feita com base em diagnósticos epidemiológicos da distribuição destas doenças e dos seus determinantes na população. Os cuidados e serviços de saúde dirigidos a estas doenças devem assim ser planeados de modo a garantir a cobertura da população e a adequada gestão de recursos de saúde com vista à melhor prestação de cuidados de saúde à população.
O Departamento de Epidemiologia realiza estudos sobre o perfil epidemiológico e as tendências ao longo do tempo da morbilidade e mortalidade relacionados com doenças crónicas e os seus determinantes na população portuguesa. Os principais instrumentos para a realização desses estudos resultam de dados recolhidos de forma contínua e sistemática ao longo de décadas por instrumentos de observação de base populacional que têm produzido de forma contínua e periódica dados que permitem a avaliação do estado de saúde da população, nomeadamente, a frequência de doenças crónicas e a caracterização dos fatores que a determinam.
São exemplos o Inquérito Nacional de Saúde por entrevista (INS) com dados desde 1987, o projeto “Em Casa Observamos Saúde” (ECOS), com dados desde 1998, e a Rede Médicos Sentinela, com dados desde 1992.
O Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade (PNAEQ), inserido no Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge, promove, organiza e coordena, de forma independente, programas de Avaliação Externa da Qualidade Laboratorial nas áreas: clínica, genética, anatomia patológica, POCT (point of care test), microbiologia do ar, microbiologia de águas, microbiologia de alimentos, microbiologia de areias e ecotoxicologia.
A participação dos laboratórios é voluntária e confidencial e, de um modo retrospetivo, permite a avaliação do desempenho e comparação entre pares, bem como a deteção de erros sistemáticos através da determinação em condições de rotina, de amostras de conteúdo desconhecido do laboratório.
É uma exigência legal e requisito obrigatório de acreditação (NP EN ISO/IEC 17025/ NP EN ISO 15189) a participação em ensaios de avaliação externa da qualidade.
O programa conta com a colaboração de peritos nacionais e internacionais, que selecionam amostras controlo e casos-estudo. Os resultados são avaliados estatisticamente e elaborados relatórios que incluem pareceres técnicos/científicos de peritos e/ou de grupos de trabalho.
O Instituto Ricardo Jorge/PNAEQ é membro da European Quality Association of Laboratory Medicine (EQALM) e coopera com esta entidade e com outros organizadores de programas de avaliação externa da qualidade internacionais, nomeadamente as entidades PHE, Labquality, SKLM, ECAT, PNCQ. A colaboração entre pares e a participação em estudos é uma das missões do PNAEQ de modo a melhorar o nível da qualidade, beneficiando diretamente o doente e o púbico em geral.
Eventos de massas ou de multidões (mass gatherings) podem ser definidos, segundo a Organização Mundial da Saúde, como reunindo “mais do que um determinado número de pessoas num local específico para uma finalidade específica, por um período definido de tempo”.
Portugal é um país particularmente vocacionado para grandes ajuntamentos de pessoas, devido ao seu clima, ao peso do turismo e também à sua cultura. Múltiplos eventos de massas colocam desafios específicos, desde os Santos Populares às manifestações políticas, da peregrinação a Fátima até aos grandes eventos desportivos.
A existência de ferramentas, conhecimento e profissionais treinados para lidar com a vigilância epidemiológica deste tipo de eventos é fundamental, criando capacidade de lidar com eventos de dimensão internacional, como foram a EXPO 98 ou o EURO 2004, por exemplo.
Nesse sentido o Departamento de Epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge tem vindo a desenvolver soluções que visam suportar a vigilância epidemiológica, indo além dos sistemas habituais e visando maior capacidade de detecção e resposta mais ágeis. Estas soluções incluem ferramentas de registo e análise em tempo real, com componentes de sistemas de informação geográfica, integrando dados prestadores de saúde convencionais (Hospitais, Centros de Saúde, INEM, entre outros) mas também pelos prestadores disponíveis nos eventos.
A experiência acumulada em diversos eventos (Festival Andanças, Festival BOOM ou Carnaval de Torres Vedras, por exemplo) tem permitido a implementação destas soluções, o envolvimento e formação de diversos profissionais de saúde e a articulação com as autoridades de saúde locais, bem como a partilha destas experiências em comunicações em congressos nacionais e internacionais.
A informação epidemiológica de base populacional, ou seja que se pretende representativa da população em estudo, requer a utilização de métodos epidemiológicos que observem diretamente a população geral, sem passar pelos serviços, por entrevista ou exame físico, e que sejam baseados em amostras probabilísticas delineadas com o objetivo de serem representativas.
Neste grupo de estudos, inserem-se os inquéritos de saúde (Health Surveys) que pretendem produzir e disponibilizar informação de saúde cientificamente válida para apoiar o planeamento, a implementação e a avaliação dos planos e programas de saúde.
O Departamento de Epidemiologia (DEP) tem vindo a promover a realização de inquéritos de saúde, assim como a sua análise, desde a sua génese no Instituto Ricardo Jorge, dos quais se destacam:
- Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF), realizado em 2015, com vários parceiros nacionais e internacionais. Foi delineado para ser representativo a nível regional e nacional (4910 participantes), da população com idade entre os 25 e os 74 anos, tendo sido recolhida informação por entrevista e por medição direta de parâmetros biométricos, por exame físico, e bioquímicos, através de análise laboratorial, e constituída uma coleção de amostras biológicas;
- Inquérito Nacional de Saúde realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, em colaboração com o DEP: representativo da população portuguesa com 15 ou mais anos de idade, colhe informação por entrevista sobre estado de saúde, determinantes e utilização de cuidados. É realizado desde 1987 (1987, 1995/96, 1998/99, 2005/6 e 2014);
- ECOS: Em casa Observamos Saúde (entrevista por telefone): amostra probabilística de famílias portuguesas com telefone fixo ou móvel (aproximadamente 1000). Tem como principal objetivo conhecer a distribuição das determinantes de saúde (fatores protetores ou de risco) na população portuguesa. É realizado anualmente desde 1998.