A utilização do sal iodado em tempos de confinamento
07-05-2020
Nestes tempos de confinamento é importante ter sempre presente as boas práticas de confeção de alimentos sem perda de nutrientes. Segundo o Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN) do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, a evidência científica tem vindo a demonstrar que a carência de iodo é uma das principais causas das doenças mentais evitáveis.
A utilização e, em certos casos, a substituição de sal comum por iodado é uma boa prática em períodos de baixo consumo de peixe e marisco fresco, como a que vivemos. Também no período de confinamento as refeições das crianças em idade escolar devem ser temperadas com sal iodado, uma vez que é este o ingrediente sal comestível utilizado nas refeições servidas nas escolas.
Acresce que o iodo é de uma importância crucial no desenvolvimento cognitivo e por isso muito importante na alimentação de grávidas e de lactantes. Por outro lado, o excesso de iodo pela via alimentar é pouco relatado mesmo em países que seguem uma dieta rica em peixe, podendo um adulto ingerir até um miligrama de iodo por dia sem serem observadas reações tóxicas, tendo em conta que o teor de iodo máximo no pescado pode atingir 300 microgramas.
O iodo é um micronutriente essencial que é responsável pela síntese das hormonas tiroideias (triiodotironina e tiroxina). O selénio e o zinco são dois micronutrientes essenciais, também envolvidos nas reações bioquímicas de formação destas hormonas. O iodo não é sintetizado no organismo sendo a alimentação a principal fonte deste oligoelemento.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou recentemente as doses diárias recomendadas de iodo tendo por base diversos estudos epidemiológicos. Os aportes diários recomendados são agrupados em quatro níveis e expressos em quantidade diária: 90 microgramas para crianças até aos cinco anos; 120 microgramas para crianças entre os seis e os onze anos; mantendo-se para adolescentes adultos e idosos em 150 microgramas. Para grávidas e lactantes, as necessidades diárias de iodo são de 250 microgramas.
Enquanto Centro Colaborativo da OMS para a Nutrição e Obesidade Infantil, o DAN tem efetuado diversos estudos sobre a ocorrência de iodo nos alimentos portugueses. Em Portugal, o pescado consumido é uma boa fonte de iodo, enquanto os laticínios e as refeições compostas à base de peixe contribuem para assegurar uma percentagem relevante da dose diária de iodo.
De acordo com alguns destes estudos, quando calculadas as contribuições de determinados alimentos para as doses diárias recomendadas de iodo e selénio, estima-se que uma porção de bacalhau pode contribuir com 48% da Dose Diária Recomendada (DDR) de iodo e 100% de selénio, enquanto três porções de lacticínios podem suprimir até 48% da DDR de Iodo. Assim para a população saudável que consuma alimentos com teores varáveis em iodo como os hortícolas, ou alimentos pobres em iodo como as massas e o arroz, é recomendável a confeção com sal iodado.
Em Portugal, a importância de uma alimentação rica em iodo foi pela primeira vez evidenciada pelo professor Gonçalves Ferreira, antigo diretor do Instituto Ricardo Jorge e um dos pioneiros da nutrição nacional. Em 2020 completam-se 60 anos da publicação do primeiro artigo dedicado à importância do Iodo na Alimentação, documento científico que retrata o teor de iodo nos alimentos consumidos pela população portuguesa naquela época.
